domingo, 29 de junho de 2008

"Não podia viver uma bobinha aos 34 anos", diz atriz da Record


Vanessa Gerbelli não se conformou com sua mocinha em Amor e Intrigas. E tratou de ir transformando a personagem ao longo da novela. Quando a autora Gisele Joras mostrou a sinopse da trama, a atriz ficou absolutamente confusa diante da extrema ingenuidade de Alice.


"Não tinha como eu viver, aos 34 anos de idade, uma protagonista tão bobinha. Tive de adaptá-la do meu jeito", explica.

Segundo a atriz, Alice parecia uma adolescente, tamanha era a falta de traquejo de vida do papel. A história sobre uma personagem que saiu de Ouro Preto para o Rio de Janeiro em busca de justiça, não se enquadrava numa enfadonha pureza.

E já que o papel precisava descobrir porque sua própria irmã Walquíria - de Renata Dominguez - roubou a mãe delas e fugiu, a atriz não teve dúvidas. Foi logo procurar Gisele Joras, autora da trama.

"Eu sofri um pouco com isso. Por mais que me empenhasse, eu já não tenho mais 18 anos. Forjar essa ingenuidade fica falso", ressalta.

Outro fator que deixou a atriz confusa ao longo da história foi a quantidade de locações imaginadas pela autora para os protagonistas.

"A Gisele é estreante, tem boas idéias, mas ainda não está acostumada com a 'carpintaria' de uma novela, com a quantidade de personagens e cenários", critica a atriz.

Ao lembrar dos primeiros capítulos da história, Vanessa lembra que era simplesmente impossível gravar em vários lugares quase ao mesmo tempo como a personagem. "Em um mesmo capítulo, ela me colocava em quatro cenários diferentes", relembra, meio apavorada.

Se por um lado existia a inexperiência de vida da personagem imaginada por uma autora iniciante, por outro, surgia o imediatismo e a rapidez das gravações presentes em qualquer novela. Ou seja, mais empecilhos vistos por Vanessa para compor sua personagem.

"A novela é imediatista, são tomadas muito rápidas. O ator tem de estar com a cena resolvida e pronta. Não é igual ao cinema, que pode ir fundo nas emoções dos personagens", compara, franzindo o rosto.

Mesmo com um longo caminho de dificuldades, a personagem deixou de ser um problema para se tornar um meio de estudos para a atriz.

"A Gisele foi muito generosa e sensível. Ela percebeu o que eu poderia oferecer como atriz e foi escrevendo para aquilo. A Alice ficou mais ativa pelo que eu mostrei para a autora", orgulha-se a atriz, que estreou na TV como a invejosa caipira Lindinha em O Cravo e a Rosa, na Globo.

Nesses oito anos de carreira na TV, Vanessa ainda não sabia o que era a torcida do público por uma história com final feliz. Apesar de ter vivido personagens importantes na carreira, como a prostituta Fernanda, de Mulheres Apaixonadas, da Globo, a atriz, porém, não tinha tido a experiência de fazer uma protagonista. Muito menos de poder intervir na construção dessa heroína.

"A Fernanda conseguiu roubar a cena por ter uma questão social envolvida. Ela morreu de bala perdida, era prostituta e mãe solteira. Por isso ela chamou atenção", desabafa ao relembrar a personagem criada por Manoel Carlos.

Sendo assim, Vanessa - ao ajudar a remoldar Alice - apostou em uma heroína menos passiva, meio inconformada e voluntariosa, que pode até brigar, se for preciso.

Para a atriz, o sucesso da trama, que se equilibra com 17 pontos de audiência e começou de forma despretensiosa, se deve ao fato do público gostar de ver tragédias baseadas em manchetes de jornais. "O povo lê esses jornais baratinhos, onde só existem crimes e sacanagens", explicita.

E compara Amor e Intrigas à "imprensa marrom". "Coisa de melodrama mesmo, com atentados em série. 'Amor e Intrigas' tem isso: uma irmã quer matar a outra", resume.

Com o término da novela, porém, Vanessa não pretende se dedicar a nenhum compromisso profissional. Longe do teatro e do cinema, a atriz só quer curtir a maternidade.

Afinal, quando começou a gravar Amor e Intrigas, seu filho Tito só tinha quatro meses. "A novela foi um exercício de superação das minhas limitações físicas e psicológicas. Serviu para testar minha capacidade. Descobri que sou forte", brinca.

De caipira a heroína

Dentre todas as personagens de Vanessa Gerbelli na TV, foi sua estréia em O Cravo e a Rosa que mais marcou a atriz. Lindinha era uma caipira que queria ganhar o lugar da mocinha Catarina, de Adriana Esteves, e conquistar o coração do fazendeiro bronco, Julião Petruchio, de Eduardo Moscovis.

Suas trapalhadas e pequenas artimanhas, misturados ao seu jeito tosco, cheio de gestos maliciosos, chamaram atenção do público. Porém, as investidas de Lindinha foram em vão. "Ela não conseguiu acabar com o bronco Petruchio", lamenta a atriz, que agora torce para o final feliz de Alice com Felipe, de Luciano Szafir.

O tempo das personagens diabólicas, por enquanto, parece ter dado uma trégua. Mas Vanessa tem saudades das cenas mais densas de papéis como a maquiavélica Elza, de Prova de Amor, da Record.

Já com Alice é a primeira vez que a atriz se realiza como uma protagonista. Vanessa chega a se comparar com a personagem ao considerar a força a principal característica de ambas.

"A Alice passou por muitas coisas difíceis. Mas todos nós passamos. Acho que essa capacidade de dar a volta por cima é o que me iguala a ela", analisa.


Instantâneas


# A atriz, de São Bernardo do Campo, chegou a cursar paralelamente ao Curso de Belas Artes, a faculdade de Publicidade só para agradar ao pai, um advogado influente de sua cidade natal. Desistiu do curso de Publicidade e se formou em Belas Artes, com especialidade em pintura.

# Vanessa começou sua carreira artística aos 15 anos cantando em bailes, na banda de música do irmão, ainda em São Bernardo do Campo.

# No cinema, participou dos filmes Carandiru, de Hector Babenco, Os Desafinados, de Walter Lima Júnior, Sem Controle, de Cris D' Amato.

# Vanessa tem no currículo oito novelas e 12 peças teatrais.




Terra

Nenhum comentário: